Acorda. Põe os grãos no moedor. Faz o café. Toma a boa manhã. Abre as últimas janelas pro sol te cumprimentar. Vai ao terreiro. Espia a bica chegar na horta. Passa pelo curral, vê o leite saindo e depois, em casa, chegar no queijo. Belisca mais um pão e entra na manga.
Fecha o colchete, margeia a estradinha cavaleira. Rastro de bicho na frente. Olha-o lá no fundo. Lança o cabresto, controla o animal. Vai ao curral. Calça as botas, veste a calça, blusa fica aberta no peito, chapéu debaixo do sol.
Ajeita o estribo no pé, puxa a rédia, controla o bruto. Sente o vento passar por debaixo do chapéu. Trote controlado, passo aprumado, corrida no vento. Ensaio de uma vida mais simples: a doma, a monta, a diversão.
Agora, desce. Amarra o cavalo na árvore. Aproveita e nada. Dorso na água, flutua, pensa e vive. Deixa o sol te secar, veste a roupa, dá outra passada sobre o lombo, vai em direção a mais: passadas em serras, água e pedra, a dureza de uma vida mais forte.
Cavalo e cavaleiro levam a todos, não deixam ninguém. E lá se vão, terra pisada, mato fechado,, desvio de vida.
Na volta, desce do bicho, ajeita a sela na madeira, depois leva-o pra molhar. Refresca o pelo, que sua vida já ficou mais leve.
Vai cavaleiro, entra em casa, se encaminha pro panhador d'água. Molha teu corpo, passa o sabão, enxerga teu rosta naquelas águas. Vê a correnteza, brinca de guerra, faz as pazes. Sai do teu leito, sobe, enxuga e coloca o chinelo. Troca palavras, bisca na noite. Vê teus iguais em vida.
Vai cavaleiro, sobe a serra, olha pra baixo, contempla teu mundo. Vê os meandros de teus rios, vê as palhoças, lembra do velho. Pede a benção da mãe, acalenta teu coração.
Entra no carro, respira eucalíptos, pega o asfalto, volta à cidade. Enfrenta a BR que a capital se aproxima. Vai cavaleiro, que as montas na metrópole te esperam. Sobe no bruto, dirige a estrada. Vai cavaleiro.
quanta roça cabe na cabeça de um homem
ResponderExcluirquantos bois
quantos riachos?
No homem da cidade
que traz no pensamento, encaripitada,
Uma saudade de chapéu de palha
e tênis com amortecedor
guiando o cavalo invisível que volta
para o futuro da nascente do mundo?
Quanto de interior
cabe em nosso interior?
A resposta são os velhos
e são os meninos que voltaram
à terra dos velhos
e repassam a terra à cidade badalada
na música, no queijo, num R escondido
numa gíria urbana.
E se te cabe uma roça no coração,
ara essa terra, não só com a lembrança,
mas com a esperança de que venham
novos meninos colher a lavoura,
plantar novo pasto,
sonhar de novo a mesma terra.
Haroldo Lourenço
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirE se ainda assim, não estiver contente,
ResponderExcluirJogue tudo pro alto, caveleiro!!!!!
E venha, volte pra sua terra
Volte pro seu povo, pra sua raça
E pra quem te espera!
Venha ser verdadeiramente feliz!!