quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Meu pé de pinha e uma sombra

No quintal de minha casa tem um pé de pinha. Ali descansam meus olhos em fins de tarde desde a muitas estações. Debaixo de sua sombra acompanha-me uma outra sombra. Ela chama-se solidão.

E ela me viu de lado, enroscou-se em meus sentidos e deixou sua avassaladora onda. Olhou por mim e viu uma revolução de amigos, tocou minha procura por mais reciprocidade, respondeu-me sim e nos acolhemos. Olho-a e trocamos ideias, mas as respostas ja dadas não me satisfazem.

Vela por mim meu pé de pinha e o agradeço em vontades. Quero enxergar com vistas molhadas seu verde tão vivo provocado pela chuva, quero estar bem e só, a seu lado, e não mais vê-lo cinza, embriagado. Assim vou e pronto. Vejo, contudo - surpreso e alegre- o vento tocar suas folhas e fazer flutuar música por mim. Aceito seu cheiro inundar-me em recordação e sabores e sorrio, sorrio sempre...

E, nesse momento, ela aparece-me de novo. Ouvi-a chamar pra perto e nos abraçamos. Deixamos que as grossas gotas d'água bata em nossos ombros e mostre como já nos realizamos juntos, do quanto já esperei poder explicar minhas fantasias e só ela a ouvir.

E é desse jeito que me encontro hoje. Só e feliz muitas vezes, só e triste em outras tantas. Mas não sou, sem dúvida, a mesma pessoa que observava as pinhas caírem e que ruía seus caroços apaixonado. Agora, desço desse cavalo selado e ando lado a lado com meus pensamentos.

Vou à procura e ainda descanso debaixo de meu pé de pinha.

Ela, meus caros, não é apenas solidão, mas mudança.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Sobre a notícia do fim provisório de uma guerra muito particular, tipo assim foi mal meu caro, ser que me anima:

não sobrou de ontem
nem pó
nem dó de mim

o tempo varreu
para fora isto agora:
peso, pesar do meu esmazelo

nem me dei um beijo no coração
fiz oração
ou li auto-ajuda

quebrei o corpo
que sorri pra mim
no espelho

mas quem de si
no front da fronte
nunca se bateu um dia?

perdão, meu Velho Eu
em que Narcíso
nunca se veria.

Haroldo Lourenço
 
 

sábado, 1 de outubro de 2011

Lá vem o vento

Meus sentimentos invadem-me em solidão.

Procuro um pouso tranquilo, mas minhas asas não me levam além de minhas próprias questões. Admito as mudanças, busco-as, mas pareço retroceder ao momento da decolagem.

Ainda em mim, lembro-me dos voos instrutivos de Fernão Capelo, mas não consigo sentir só o vento e simplesmente aplainar. De todo jeito volto e sobrevoo os espaços mais contidos da fazenda, dos meus, dos velhos, de tudo aquilo que me formou.

Em parábolas gráficas, subo e volto, mas sempre em frente, à procura. Embriago-me, deixo a busca que me toca levar a idéia à pena.

Numa cidade de tantos, com quantos ainda ainda compartilharei as doçuras e agruras de apenas me deixar levar?

Sinto só o espectro do "tanto sentimento" do Pessoa e observo o espelho do mar no céu, mas não me sinto princípe. Serão justamente as coisas findas e lindas de Drumond, ou apenas um "Claro Enigma"? "Alea jacta est" ou "pacta sunt servanda", qual a senha pra descoberta da rota?

Deleito-me na cidade fantástica de Macondo, mas, já sério, duvido da existência do gelo. Vou por aí, em asas de liberdade fictícia, mas que deixa meu voo triste e, mais uma vez, solo.

Procuro por pés-de-laranja-lima, mas aquela amizade não me responde mais. E assim no alto da montanha, numa casa bem estranha, procuro explicações.

Sou - e sinto-me assim- o único personagem de minha existência que me pode responder. É duro, meu caro, o plano de voo, sem que se saiba o destino certo e o local de pouso.

Mas não se engane, o sol me toca profundamente, as rajadas de vento me passam por todo o corpo, o espírito não me fecha as portas. Partido, fragmentado, mas forte, bato ainda mais as asas, sinto ainda mais a vontade da descoberta.

E se me vou é porque ainda não encontrei pássaros que trocassem presentes sem presença, é porque sou resistente e levo-me às minhas próprias buscas.

Ainda encontro companheiros que, no alto, irão comigo perpassar cahcoeiras, deixar a água nos molhar e simplesmente sorrir. Viajantes de mundos diferentes, amorais, capazes de definir rotas.

Enquanto isso, meus sentimentos invadem-me e, por muitas vezes, só cerra fileiras comigo a pena.

Mas, olhe lá... Evem o vento...

Não somo só, queridos, aquilo que nossos olhos tocam.

Minha casa e meus sonhos

 Hoje olhei pras paredes de minha casa. Pensei na melhora, gostei do que fiz. Fiz da parede meu retrato e da lembrança minha busca. Sorri ao...